quarta-feira, 19 de maio de 2010

O gol contra

De Antonio Ribeiro, blog da Veja Online:
De um lado, Luis Inácio Lula da Silva. À direita, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. Os dois erguem os braços do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Olhem a imagem que ilustra o post. A julgar pela preocupante questão nuclear iraniana, a imagem de festejo durante assinatura do acordo em Teerã, equivaleria a eventual fotografia do capitão Lúcio, da Seleção, erguendo a Taça FIFA, com as duas figuras humanas esculpidas em ouro sustentando o planeta Terra. O mundo inteiro deveria estar aplaudindo, assim como farão os torcedores presentes no estádio Soccer City, em Joanesburgo, na África do Sul, dia 11 de julho. Mas não está: olha desconfiado, enquanto o grupo restrito comemora. Por que?
Em primeiro lugar, porque não assistiu-se ao jogo. Ouviu-se pelo rádio a narração feita pelos protagonistas da partida. Eles dizem ter saído vitoriosos depois de 18 horas de conversa. No entanto, a euforia não consegue afastar a suspeita geral de que, na verdade, tratou-se de uma conquista de tempo adicional. Isto para evitar sanções imediatas do Conselho de Segurança da ONU contra o país de Ahmadinejad, descumpridor reincidente de acordos. Turquia e Brasil conseguiram arrancar a promessa da República Islâmica do Irã pela qual o país entregará pouco mais da metade (58%) de matéria-prima em sua possessão (1.200 quilos de urânio) que se 90% enriquecida, através de processo de separação, pelo isótopo Urânio-235, serve para fabricar arma atômica.
A Turquia será fiel depositária da parcela radioativa do Irã. Em contrapartida, o país se encarregará de repassar daqui um ano, 120 quilos de urânio enriquecido a 20% — na Rússia e na França — para servir de combustível atômico dos reatores iranianos com finalidade pacífica. Detalhe edificante: pelo acordo, o Irã se dá o direito de continuar enriquecendo urânio a 20% o que contraria cinco resoluções da ONU. Uma vez chegado a 20% de enriquecimento, bastaria apenas alguns meses para atingir os 90% necessários para a arma nuclear. Ainda: o Irã poderá romper o acordo quando bem entender. Então o que mudou? A curto termo, o Irã não terá estoque suficiente para fabricar uma arma nuclear — isso se o país tiver os 2.058 quilos de urânio estocados segundo o útimo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Simultaneamente, o país dos aiatolás adquire uma espécie “selo verde” ou “lavagem de dinheiro” para fazer funcionar programa nuclear, secreto desde seu relançamento nos ano 90.
A declaração de Teerã cujos termos são similares aos recusados pelo Irã, em Genebra, no mês de outubro de 2009, terá que ser ratificada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e aprovada pelo grupo de Viena (Estados Unidos, Rússia e França). Ahmadinejad com o acordo aprovado não fica mais mais próximo de construir a bomba atômica, o país dos aiatolás fica sim, mais a vontade para construí-las mais para frente. Leia no post abaixo os 10 pontos da declaração assinada pelo Irã, Brasil e Turquia, em Teerã.

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