Vania Galvão*
O poeta e compositor Cazuza, numa de suas canções memoráveis, nos lembra uma das verdades inexoráveis da existência humana: o tempo não pára...
No que diz respeito a todos os seres vivos, e particularmente aos humanos, isso significa, dentre outras coisas, que envelhecemos, nos tornamos idosas ou então abruptamente temos nossas vidas interrompidas por outro destino inconteste, a morte.
No contexto atual vivemos o crescimento da população idosa em nosso país. Mas, apesar de sermos um percentual expressivo nas faixas etárias acima dos sessenta anos, enfrentamos o estigma e o preconceito decorrente da idade.
No Brasil, segundo o IBGE (2006), as pessoas idosas representam 10,2% da população e a Organização Mundial da Saúde afirma que seremos tantos, que nosso país, em 2025, será o sexto do mundo com maior número de pessoas com idade acima dos 60 anos.
Então estamos falando de um contingente populacional significativo e em expansão que enfrenta a desqualificação pessoal, são humilhados e sofrem vários tipos de violência.
A violência assim definida como “um ato (único ou repetido) ou omissão que cause ao idoso dano ou aflição e que se produz em qualquer relação na qual exista expectativa de confiança”.
No Brasil, 90% da violência cometida contra pessoas idosas ocorre no âmbito familiar, sendo que 13% corresponde à violência física e 60% são abusos econômicos – como a apropriação indébita de bens e recursos financeiros, principalmente dos benefícios como aposentadorias e pensões – e as negligências.
As maiores vítimas são as mulheres (72,5% das queixas), o que não é novidade, pois as mulheres vivenciam a violência doméstica em todas as faixas etárias.
Mas a violência contra os idosos também ocorre no âmbito público, principalmente no item “mobilidade nas grandes cidades”, seja no trânsito – como no acesso ao transporte coletivo e ao direito à gratuidade; seja no atendimento – como os maus tratos em hospitais e outros equipamentos e serviços públicos; seja no reconhecimento do idoso como sujeito “de direitos” – como a desqualificação generalizada dos idosos como cidadãos e cidadãs.
Percebemos que, o fenômeno da violência contra os mais velhos traz à tona estereótipos e preconceitos provenientes de uma cultura que cada vez mais enaltece a juventude e trata as pessoas idosas como obsoletas e encostadas no sistema previdenciário.
A sociedade por sua vez reflete essa cultura, e cada vez mais propaga imagens de uma juventude eterna, que usa todo tipo de artifício estético para esconder o envelhecimento, se esquecendo que o tempo não pára.
Porque envelhecer é um processo, inerente a todos os seres humanos, processo que se inicia na concepção e perpassa todos os dias de nossas vidas.
Quando emitimos opinião preconceituosa ou fazemos juízo de valor sobre as pessoas idosas, estamos falando do futuro de toda a humanidade, pois os mais jovens serão, um dia os idosos do seu tempo.
Idosos que trazem a experiência da história, da qual fizeram parte como sujeitos políticos que construíram e constroem esse país.
Um país que mudou muito nesses últimos anos, com o avanço da democracia e com a valorização dos Direitos Humanos como preceitos para toda a humanidade.
Façamos cumprir o Estatuto do Idoso – através de medidas, projetos e políticas complementares - e mais que isto, façamos um movimento para que a sociedade entenda e aceite o envelhecimento como um processo natural do conjunto que chamamos universo.
*Vereadora Vânia Galvão (PT)
2ª Secretária da Câmara Municipal de Salvador
Nota do Editor - Prezada vereadora, a violencia contra o idoso deve ser ser caracterizada como crime hediondo, sem direito a fiança e as penas previstas no Codigo Criminal devem ser as mais pesadas contra o ser humano. Com a palavra nossos representantes no Congresso Nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário