Ricardo Andrade
"O nascimento de um rio não acontece quando a água brota da terra. Antes disso uma seqüência de fatos desencadearam e influenciaram esse processo. Existe por traz do nascimento de um rio um enorme fundamento. Primeiro Olorum através do sol aquece a água dos lagos e oceanos. Oxumaré com seu arco-íris leva a água em forma de vapor para as nuvens que ficam carregadas. Xangô anuncia com seu trovão que Iansã está juntando as nuvens com o vento mágico que surge quando ela balança suas saiais. Quando as nuvens estão todas arrumadas, Xangô lança o Edun-Ará (pedra de raio) sobre a terra avisando a ela, Eduduá, que prepare seu ventre pois a chuva virá. Ossãe pendura suas cabaças em Iroko para conter o líquido maravilhoso da vida. O momento sublime acontece. Numa sintonia perfeita de toda natureza, a chuva cai trazendo consigo toda força do céu e alimentando a terra. Eduduá absorve todo líquido e cria um enorme lago no interior da terra, seu ventre. Quando a água acumulada se enche de força mineral (axé), Eduduá abre seu ventre e dá vida à majestosa Oxum, que brotará do solo e deslizará sobre seu leito levando a vida sobre toda superfície da terra. Mais à frente a água se acumulará de novo e tudo começará novamente. Assim como a vida de Oxum tem seu segredo, nós negros e negras também temos o nosso. A nossa história não começa em 1500 com a chegada dos portugueses ao Brasil. Antes disso uma seqüência de fatos marcaram e até hoje influenciaram nossas vidas. Existe por trás do aparecimento do povo negro no Brasil um enorme fundamento. Não somos descendentes de escravos, como dizem os livros escolares. Somos descendentes de civilizações africanas, de reinados fortes e poderosos. Somos descendentes de reis, rainhas, príncipes e princesas. Somos parentes de homens e mulheres que desenvolveram a escrita, a astrologia, a numerologia, as ciências e as pirâmides. Somos fruto de um povo que desenvolveu as técnicas agrícolas e que domina a medicina alternativa. Somos fruto de um povo que conhece as folhas e como despertar o poder delas. Nosso povo sabe estar no Ayrê (terra) sem perder a essência do Orum (céu)".
O texto acima foi transmitido por uma internauta que pediu que o reproduzisse neste blog para que "vejam quanta beleza e sabedoria existe nesse nosso povo antigo, nossos antepassados e presentes em nós. Que essa beleza e sabedoria penetre mais profundamente em nossas relações e cotidiano (ecologia, integração, respeito ...)". Está feita a vontade da internauta!
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