*Marta Rodrigues
No dia 29 de março, a nossa amada e bela Salvador completa 461 anos. Em 1549, sua fundação se deu às pressas para acolher o governador geral, Thomé de Souza, porém sem nenhuma infraestrutura urbana (ficou famosa pela fedentina por conta do arremesso de dejetos pelas janelas nas ruas por falta de rede de esgoto). E se fizermos um paralelo entre os tempos remotos e os dias atuais, teremos uma marca indelével do desamparo a que foram submetidos os pobres da nossa terra da fundação até hoje.
Os festejos dos 461 anos serão por muitos motivos, de inúmeros ufanismos e queima de fogos, até porque, para os ricos do setor imobiliários é tempo de festejar os altos lucros e o “desaprofeito” anuncia show e um calendário de “obras”, entre elas a comemoração de cinco anos de criação do SIMM e a reinauguração da Escola Municipal Francisco Mangabeira, em São Caetano. Com toda data venia, parece querer brincar de governar e viver de pirotecnia, pois inexiste nesta gestão uma obra estruturante sequer, capaz de atenuar o sofrimento dos que moram nos bairros periféricos da nossa festejada metrópole.
A cidade está desamparada, tal qual filho sem proteção materna. O desamparo de políticas públicas municipais e literalmente o desamparo em relação às condições de moradia nas áreas de riscos. Mais de 70% dos habitantes, em período de elevado índice pluviométrico, de março a julho, vivem em tensão permanente. O mês de março é de comemoração, mas, antes de tudo, são as chuvas que marcam de sofrimento, dor, tristeza e choro a vida das milhares de famílias moradoras das encostas. O jornal A Tarde, em 24/3, publicou que só nestes primeiros dias de março, já foram registrados 22 deslizamentos de terra e dez desabamentos.
A questão das encostas não é coisa nova, data da fundação da nossa cidade. Em 1551, o mestre Luís Dias, em carta à Portugal, discorria sobre a problemática: “quarta-feira, a derradeira oitava da Páscoa, começaram as taiparias que então começávamos de fazer, de cair de Porta de Santa Catarina até a estância sobre o mar, que se agora chama de São Jorge até a estância de São Tomé. (Gonçalves,1992)”.
Portanto, o maior presente para o povo de Salvador, nestes 461 anos, seria o prefeito apresentar um plano de drenagem e recuperação de encostas sério e de longo prazo, capaz de diminuir os dias de incertezas dos que dormem em dias de chuva e não sabem se acordarão ao amanhecer. Enquanto isso, só resta lembrar Chico Buarque a dizer que, “apesar de você, amanhã há de ser outro dia, e pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia”.
Marta Rodrigues é vereadora e presidente do PT de Salvador.
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