De Augusto Nunes, na Veja Online:
O jornalista Armando Nogueira sempre conseguia pintar o aparentemente irretratável e tornar mais belo o que já parecia esteticamente perfeito. Sem modificar o que via, mas descrevendo com a alma o que foi visto, especializou-se na arte de ampliar o encanto dos lances inventados pelos gênios do esporte.
Com o tempo, o altar circunscrito aos deuses dos gramados se tornou mais ecumênico. Mas permaneceram nos nichos especialmente vistosos as duas divindades maiores: Garrincha e Pelé. Sobre o Rei, disse tudo numa frase: “Se Pelé não tivesse nascido gente, teria nascido bola”. O mágico das pernas tortas era o personagem da manchete dos sonhos: GARRINCHA RESSUSCITOU.
Qual deles foi o melhor? Os dois: “Pelé, magnífico, na arte de fazer um gol de placa, e Garrincha, estonteante, no mistério de aturdir o instante do drible”. Devoções originárias de esportes com os quais passou a conviver mais estreitamente enriqueceram e diversificaram o altar. Hortência e Paula, por exemplo. Na despedida de Paula, o cronista canonizou da deusas do basquete.
“Primeiro foi Hortência, de tantas cestas perfumadas”, lastimou. “Agora, é Paula, Maria Paula das mãos adivinhas (…) Paula, das mãos que inventam cintilações. Das mãos que adivinhavam os caprichos da bola. Das mãos que regiam o jogo como se fosse um balé. (Alguém dirá que não é?)”.
Das mãos adivinhas de Armando saíram incontáveis palavras perfumadas. Os jornalistas que escrevem por nós não deveriam morrer.
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