domingo, 14 de fevereiro de 2010

Trecho I da entrevista histórica de Cid Teixeira

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Como o senhor avalia a passagem de Antonio Carlos Magalhães pela política?
Vou fazer uma comparação que você vai achar maluca. Foi uma passagem de Napoleão pela França (risos)
Por quê?
Ele chegou, ele fez, ele arrumou, ele acabou, ele morreu, politicamente morreu. Pronto.
Você estranhou que no enterro dele houvesse tão pouca gente?Tão pouca gente!
Ele não era querido, era temido. Bastou perdeu o poder.
Isso aconteceu com Juracy Magalhães?
Eu me lembro da existência da Associação dos Amigos de Juracy Magalhães.
E tinha também a missa de Seabra.
A missa de Seabra e de Juracy. No dia 4 de agosto, aniversário de Juracy, o jornal A Tarde publicava, sistematicamente, o convite pra missa com três signatários. E que eram os três líderes do juracisismo. De ano pra ano, mudam os signatários. Quando está no poder, é um. Quando está fora do poder, é outro. (risos) Veja isso nos jornais antigos!
O senhor teve experiências com Antonio Carlos?
Não, fomos bons amigos, ele foi do meu tempo de ginásio, convivemos juntos, fui amigo do irmão dele, Zezito. Nunca ocupei nenhum cargo, nada. Relacionamento cordial e nada mais que isso.
Mas, fazendo um balanço da gestão, ele foi bom gestor, modernizou a Bahia?
Ele modernizou, marcou. Mas com o temperamento dele, exclusivo, conseguiu não ser querido, e sim ser temido.
Qual a relação dele com as tradicionais famílias baianas? Ele que acelera a decadência?
Também. Porque não os indicou, como era de praxe, para os cargos essenciais da administração pública.
Aí entram os técnicos...
Os tecnocratas. Acaba com aquele negócio de o sujeito nascer sabendo que vai ser diretor de banco.
Quais eram os bons lugares? Trabalhar no Estado, no Banco Econômico...
E na prefeitura (de Salvador). E na Magalhães & Cia.
O golpe de 1964 alterou as relações políticas?
Não, não houve. É como na Revolução de 1930. Não havia revolucionários em 30. Quando a Revolução ganhou, acabou-se o estoque de pano vermelho nas lojas. Porque todo mundo estava de lenço vermelho nos pescoços, todos viraram revolucionários. Nada se parece mais com um conservador do que um liberal no poder. A frase não é minha, não, mas é verdadeira. Isso é aplicável a todos os outros movimentos.

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