segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Rio tenta dar a "volta por cima" na bandidagem

Da Veja Online:
Boa parte das favelas cariocas está encarapitada sobre os morros da cidade, de onde se tem vistas espetaculares.
Durante décadas, essa localização serviu para transformá-las em abrigo seguro para traficantes.
Recentemente, esses territórios começaram a ser recuperados para a cidade por meio de uma política de segurança calcada na implantação de UPPs, as Unidades de Política Pacificadora, que encravam batalhões de policiais onde antes a bandidagem reinava.
Foi uma iniciativa louvável, que tem se mostrado eficaz.
Bastou um ano, porém, para que a boa ideia das UPPs tivesse um desdobramento espúrio.
Com assinatura do Ministério do Turismo e do governo do estado, deverá ser lançado com grande estardalhaço no dia 30 de agosto, no Morro Dona Marta, um programa batizado de “Rio Top Tour”.
Seu objetivo é estimular a visitação das encostas ocupadas pelas favelas, e 230 000 reais serão gastos para treinar os moradores locais como guias turísticos.
Considerado o peso das UPPs na propaganda do governador Sérgio Cabral, candidato à reeleição no Rio, o lançamento do ‘Top Tour’, tal como anunciado, tem inegável sabor eleitoreiro.
A presença do presidente Lula é aguardada, na laje onde foi gravado o clipe do cantor Michael Jackson em 1996.
Na ocasião, também deverá ser badalado o projeto UPP Social, iniciativa que pretende abarcar, de uma vez só, todas as demandas sociais das favelas com UPPs.
Atualmente, há 12 favelas com UPPs; a meta do governo do estado é ter 40 favelas incluídas no projeto até 2014.
Como a invasão do hotel Intercontinental por dez traficantes fortemente armados deixou claro neste sábado, ainda é muito cedo para celebrar a vitória do poder público contra o crime no Rio de Janeiro.
Empurrar turistas favela acima pode ser uma receita para o desastre - além de aproximar as UPPs de programas de visitação em que a atração está na precariedade das condições de vida da população.
Programas turísticos desse tipo existem na África do Sul, onde a miséria foi institucionalizada como opção de passeio nas favelas de Cape Flats.
E existem no próprio Rio de Janeiro, onde excursões de turistas sobem a Rocinha em jipes camuflados, como se fossem entrar numa guerra ou num safari.

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