Por Reinaldo Asevedo, da Veja Online
A Folha de S. Paulo publicou um bom texto de análise da pesquisa Datafolha. Foi escrito por Vinicius Mota, secretário de redação. Acho que já peguei no pé dele aqui. Não lembro. Pego no pé de tanta gente! É provável que não goste muito de mim — a exemplo de muitos. Não ligo, como sabem. Quando gosto, digo “gosto”; quando não, “não”. É uma regra simples.
Publico abaixo seu texto (em azul). O mérito do artigo é tentar entender o que está em curso, sem o determinismo idiota, econômico-lulista, que tem tomado conta do debate, conforme venho apontando aqui. A Folha tem recorrido aos chamados textos de “análise”. Raramente tem produzido algo que não seja “opinião”. Opinião não é nem melhor nem pior do que análise: só é outra coisa.
E ele pode ficar tranqüilo. Prometo não tornar o elogio freqüente ainda que ele venha a merecê-lo outras vezes. Eu o protegerei, doravante, dos “isentos” de um lado só, hehe. Até porque tenho uma crítica clara à edição. Tudo bem afirmar que o empate continua, comparando Datafolha com Datafolha. Mas o mesmo jornal usava o Ibope para evidenciar a suposta desidratação da candidatura tucana até ontem. Verdade ou mentira? Deveria ter usado pesquisa do seu próprio instituto para indicar, então, a recuperação. É lógica elementar. Se ela é traída, há algo de errado.
Ainda que Vinicius dispense meu elogio, sabe que não pode ignorar a crítica. Quem escreve a análise que ele escreveu tem como fazer a coisa certa. É só querer.
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O jogo da sucessão ainda não está jogado
Ao final de 2010, a atividade econômica ao longo do segundo mandato de Lula terá crescido, em média, perto de 4,5%ao ano, cifra que cai para 4%, considerados os oito anos. Desde a ditadura militar -no quarto de século até 1980, o Brasil cresceu 7,5% ao ano- não se registra resultado tão positivo. Quanto menor a renda, mais depressa ela cresce, o que diminui a desigualdade de salários.
A recente Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, mostrou que a pobreza é menor que se imaginava. Há uma geração não se vê taxa de desemprego, em torno de 7%, tão baixa. A popularidade do presidente da República bateu novo recorde de alta.
Se imperasse o determinismo econômico em eleição, era de esperar que a candidata da situação estivesse a ponto de liquidar a fatura no primeiro turno.Mas, a 94 dias do pleito, Dilma Rousseff continua empatada com José Serra.
As eleições de 2002 e de 2006 mostraram a dificuldade de ocorrerem lavadas na eleição presidencial brasileira.
Nos dois pleitos- em ambos as chamadas condições objetivas favoreciam Lula-, o tucano derrotado teve pouco menos de 40% dos votos válidos no segundo turno. Serra é competitivo porque mantém frente de 11 pontos percentuais no Sudeste, na hipótese de segundo turno contra Dilma. Em 2006, Lula bateu Geraldo Alckmin por 14 pontos na região.
Serra também supera o desempenho de Alckmin no Nordeste. Tem 35% (39%, desprezadas intenções de voto em branco, nulo e indecisos), contra 54% (ou 61%, fazendo a mesma subtração) da petista.
No 2º turno de 2006, o candidato tucano obteve apenas 23 de cada 100 votos válidos nordestinos. É muito mais difícil explicar o fenômeno sociológico que sustenta uma divisão quase ao meio do eleitorado brasileiro.
Circulou, faz pouco tempo, a tese de que os petistas souberam cativar um certo conservadorismo das classes populares que iam ganhando poder de consumo -e isso teria desequilibrado a balança o suficiente para reeleger Lula.
Não terá, contudo, esse ganho de status recente operado uma certa “sudestização” de todo o eleitorado brasileiro?
Quando as necessidades mais básicas da maioria das famílias deixam aos poucos de ser um tema central, não terá a disputa eleitoral mudado de parâmetros? Aspectos como os valores (culturais, morais, sociais) não passariam a ter mais relevo?
Não sabemos. Sabemos apenas que o jogo que vai definir o sucessor de Lula, apesar da impressionante maré favorável da economia, não está jogado.
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