De Gerson Camarotti, Cristiane Jungblut e Maria Lima, de O Globo:
Com a posição majoritária do PSB pela retirada da candidatura presidencial do deputado e ex-ministro Ciro Gomes, para apoiar a petista Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto iniciou uma operação para tentar diminuir o estrago da decisão e evitar que os votos do socialista acabem migrando para o pré-candidato tucano José Serra.
Ontem, Ciro disse que vai "espernear" até terça-feira, quando o PSB deve sacramentar a retirada de sua pré-candidatura . A preocupação aumentou com duas entrevistas dadas por Ciro.
Ao portal iG, ele criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a dizer que Serra é "mais preparado, mais legítimo, mais capaz" para administrar o país numa eventual crise cambial.
Mais tarde, ao "Jornal SBT Brasil", voltou a dizer que o tucano "é mais bem preparado do que a Dilma", embora diga que prefere a petista "como pessoa" .
A grande mágoa de Ciro com o processo, em especial com o presidente Lula, ficou explícita nos ataques que fez nesta sexta-feira. Ao iG, Ciro criticou Lula, dizendo que ele está "navegando na maionese" e afirmou que não pedirá votos para Dilma. "Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou", afirmou ao portal na internet.
À noite, no SBT, chegou a negar que dera entrevista ao iG, mas, na saída da emissora, admitiu que tivera uma "uma conversa de amigos" com um jornalista do portal, que não esperava ver publicada. Na TV, voltou a criticar o presidente. Segundo Ciro, Lula "está errado" ao insistir numa polarização entre Dilma e Serra.
O tom de Ciro aumentou a preocupação de Lula e do PT, e há um temor especial com o Ceará, onde o socialista liderava com folga as pesquisas de intenção de votos para presidente.
Há a constatação de que Dilma poderia ser prejudicada por uma espécie de retaliação do eleitor cearense. Por isso, a estratégia governista é de reaproximar Lula e Ciro, assim que passar esse período inicial de grande mágoa - como Serra conseguiu fazer com o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) para manter os votos de Minas.
De forma reservada, Lula avaliou nesta sexta-feira que, neste momento, não é possível fazer nada, mas está determinado a buscar a reconciliação, numa "conversa reservada e pessoal" com seu ex-ministro. A orientação de Lula foi de que se evitasse rebater as críticas de Ciro.
- Deixe passar a dor de cotovelo, deixa ele viajar, depois conversamos. Não podemos torná-lo hostil - disse Lula, segundo relatos.
De manhã, na conversa reservada que teve no Palácio da Alvorada com o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), e o vice, o ex-ministro Roberto Amaral, Lula já demonstrava receio com a reação de Ciro, mesmo sem conhecer ainda as declarações dele ao portal.
No PT, a preocupação do comando da campanha de Dilma é reverter a avaliação de que o cenário sem Ciro é mais favorável a Serra - para evitar que essa impressão se alastre.
Já há mobilização para evitar que aliados de Ciro, como o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e o próprio governador Cid Gomes (PSB-CE), seu irmão, fiquem liberados para apoiar candidatos tucanos nos seus estados.
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