De Reinaldo Azevedo, da Veja Online
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, decidiu ficar no Banco Central. Não vai concorrer a nenhum cargo, hipótese que o obrigaria a deixar a instituição — e a data-limite para fazê-lo é esta sexta. A decisão é um misto de sabedoria e “precisão”, naquele sentido empregado por Guimarães Rosa para falar do sapo, que pula por “precisão”, não por boniteza.
Por que é uma “precisão”? A projeção de inflação para 2010 está em 5,2%, bem acima da meta da 4,5%. A última ata do Copom é incompatível com a decisão de ter mantido inalterada a Selic. Ficou a suspeita de uma decisão política. Está escrito lá: “ houve consenso (…) quanto à necessidade de se implementar um ajuste na taxa básica de juros, de forma a conter o descompasso entre o ritmo de expansão da demanda doméstica e a capacidade produtiva da economia, bem como para reforçar a ancoragem das expectativas de inflação”.
Houve um consenso? Então por que a decisão não foi tomada? Ou bem não se escrevia essa ata e se mantinha a taxa, ou bem se a escrevia, como se fez, mas elevando a Selic. Ata e decisão são incompatíveis. Os ditos mercados passaram a considerar que o “BC piscou”. Piscou para a política.
Papéis incompatíveis
No dia 1º de outubro do ano passado, escrevi o texto Meirelles tem de escolher já entre a política e a presidência do Banco Central. Os dois, não dá! Tratava justamente das suspeitas que um político militante, à caça de votos, pode despertar no comando do Banco Central. Recrudescimento da inflação em ano eleitoral pede estabilidade da autoridade monetária, não o contrário. Assim, Meirelles tinha mesmo de ficar. E é bom que fique.
Sua filiação ao PMDB em outubro do ano passado era uma ação de amplo espectro. Meirelles pensava no governo de Goiás, no Senado, mas passou a ser cultivado como possível vice na chapa de Dilma Rousseffr — seria o homem certo para transmitir confiança aos mercados. As velhas raposas do PMDB fulminaram essa sua (e de Lula) pretensão.
Caso Dilma vença a eleição, Meirelles terá, se quiser, assento no primeiro escalão. Lula certamente pediu para que ele permanecesse no cargo. Ocorre que, mais do que Lula, foram as expectativas do mercado e a inflação que cobraram: “Fique, Meirelles”. E ele ficou.
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