De Reinaldo Azevedo, da Veja Online:
Lula atacou com dureza a imprensa em Juiz de Fora e em Campinas — não só ela, mas também os 4%, segundo pesquisas, que acham seu governo “ruim ou péssimo”. Para ele, essas pessoas devem estar todas escondidas na casa de Geraldo Alckmin e José Serra. No horário político de Mercadante, referindo-se ao candidato tucano ao governo de São Paulo, afirmou: “É uma vergonha que o Estado mais rico, que deveria ser exemplo de politização, possa ser o retrocesso votando em alguém que nós sabemos não ter a alma do povo brasileiro, que não pensa o povo, não pensa o Brasil”.
Lula decide agora quem tem e quem não tem “a alma” do povo brasileiro. É ele quem concede uma espécie de “certificado anímico” aos opositores. Imaginem essa mesma fala na boca de um político que os nossos “progressistas” considerassem “de direita”… Ontem, dedo em riste, Dilma Rousseff vociferou contra uma reportagem, afirmando que o jornal não havia publicado o que ele havia publicado. Para ela, a reportagem não estava apenas errada, não! Era “má fé”.
Eu estou entre aqueles que vêem, sim, o risco de “mexicanização” da política brasileira — fui o primeiro, que me lembre, a apontá-lo, há alguns anos. Já expliquei a questão até gramaticalmente aqui. Dado o andar da carruagem, essa “mexicanização” pode assumir um outro significado, mais grave. O jornal El Diário, de Ciudad Juarez, no México, publicou um texto ontem perguntando aos traficantes de droga o que é que eles querem que seja publicado (ver post abaixo). A cidade é hoje a mais violenta do mundo. Jornalistas também estão sendo assassinados. Com medo, a imprensa noticia cada vez menos as ações do crime organizado. A intimidação está funcionando.
Pois é… O mesmo poderíamos perguntar aos petistas aqui: “Muito bem, companheiros, o que é que vocês querem que a gente publique?” Não os estou comparando, de modo oblíquo, a traficantes. Só estou apontando que a imprensa, coitada!, é sempre o alvo de grupos organizados que não se conformam com as instituições, as leis, as regras e o decoro necessários para viver em sociedade.
Conte aí, presidente; diga aí, candidata Dilma: “O que a gente deve publicar para deixá-los felizes — além, evidentemente, de matérias contra seus adversários políticos?” José Dirceu poderia colaborar na resposta, justo ele! Quando deputado estadual e deputado federal, era uma verdadeira usina de produzir “provas” contra adversários. Que jornalista investigativo nestepaiz nunca passou no gabinete de algum petista para pegar um sigilozinho, uma investigaçãozinha que corria em segredo de Justiça, um documentozinho conseguido ilegalmente?
O que é que eles querem que a gente publique? Tenho uma pálida idéia de qual seria a resposta. Viveríamos numa espécie de permanente orgia da celebração, exaltando as virtudes inaugurais do Estimado Líder e de sua criatura eleitoral. Não só isso: esmagaríamos aqueles que Lula chama “a turma do contra”, os que, como ele diz, “sempre reclamam de tudo”. Jornalista seria mero apparatchik do PT, cumprindo, desse modo, a sua “função social”. Muitos são, é bom deixar claro!
Dirceu, como sempre, já está pensando em coisas muito práticas. Ele quer uma reforma partidária que aumente brutalmente a verba oficial para os partidos porque pretende criar verdadeiros centros de treinamento intelectual e doutrinação ideológica, enviando, inclusive, estudantes para o exterior para que se especializem e possam fazer a guerra de valores. Segundo disse, a direita já faz isso. Uau! Onde? Depois de “Os Meninos do Brasil”, teríamos “Os Meninos do Dirceu”…
A imprensa! Sempre a imprensa! Lula afirma que é ela o único partido de oposição que há no país. Qual oposição? A fatia da imprensa que não se rendeu ao petismo se ocupa da notícia, da análise e da opinião sem indagar se A ou B vão gostar ou ficar chateados. E isso já rendeu milhares de allorios ao governo, diga-se. E se nega a seguir, por enquanto aos menos, essa “nova mexicanização”.
Não precisamos, não ainda, pedir licença a dealers da ideologia. A nossa licença, á diferença do que disse Lula, não é fornecida por seu governo, mas pela Constituição da República Federativa do Brasil.
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