segunda-feira, 31 de maio de 2010

Insegurança e impunidade

Da coluna de Alex Ferraz, na Tribuna da Bahia:
Uma das situações que o assassinato do delegado Clayton Leão trouxe à tona diz respeito diretamente à Camaçari, cidade que concentra a produção industrial da Bahia e se destaca em todo o Norte e Nordeste neste setor, fatura somas fabulosas em impostos, e, portanto, deveria oferecer segurança exemplar aos seus moradores, incluindo aqueles milhares que vêm de fora, de Norte a Sul do país, trabalhar na sua pujante economia.
No entanto, a verdade é que tenho recebido uma série de e-mails queixosos em relação à impunidade dos crimes cometidos em Camaçari (a Tribuna, inclusive, publicou ontem entrevistas sobre o assunto, na cobertura do enterro do delegado). Trabalhei em Camaçari na campanha de 2004. Lá fiquei durante três meses e pude constatar pessoalmente a intranquilidade da população diante dos riscos de se andar pela cidade, principalmente para frequentar botecos e à noite (diversão que em países civilizados se faz como roteiro chique, diga-se de passagem). Ouvia conselhos graves de como me comportar e os acatei. Daí, talvez, ter sobrevivido. E a situação só se agravou de lá para cá.
O pior é que a constatação de que o assassinato do delegado não passou de um latrocínio para se roubar um bizarro celular, piora as coisas, pois atesta que, na maior cidade industrial do Nordeste, em rodovia que não é tão deserta como dizem (sempre que vou a Camaçari, uso a Cascalheira), pelo contrário, por ela transitam milhares de veículos por dia, em alternativa à congestionada Via Parafuso, uma pessoa pode ser morta em plena manhã ensolarada de um dia de semana pelo fato de ter parado o carro por alguns minutos para, obedecendo às normas de trânsito, falar ao celular. Sendo o caso latrocínio, é ainda muito grave do que execução, pois atesta a insegurança absoluta também em Camaçari. No caso de execução, pelo contrário, ficaria claro que está havendo uma luta contra o crime e que este, como ocorreu na Itália na luta contra máfia, quando juízes e governantes foram assassinados, cobrou o seu preço.

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