quarta-feira, 19 de maio de 2010

Glauber Rocha será anistiado no Teatro Vila Velha

Texto de Vera Rotta e Marcelo de Trói:
O Teatro Vila Velha será palco do ato simbólico da “Caravana da Anistia” que, de forma gratuita e aberto ao público, realiza sessões de apreciação de requerimentos de anistia política. A 37ª. Caravana da Anistia julgará o processo do cineasta Glauber Rocha no dia 26 de maio, às 15hs, e está sendo organizado em parceria com a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.
“Este ato é importante, porque mostra que o Estado brasileiro reconhece os seus erros. Na medida em que isso acontece, nós botamos luz nas feridas. É importante essa reflexão para que erros como esse não voltem a acontecer mais. O Estado tem obrigação de reconhecer. E a morte prematura de Glauber, de certa forma, tem a ver com a ditadura brasileira”, airmou Márcio Meirelles, secretário de Cultura da Bahia.
A escolha do Vila Velha como palco da cerimônia foi uma decisão da Comissão de Anistia, já que o Teatro foi sede da Anistia Internacional, além de ter sido a casa de artistas “glauberianos”, como Mário Gusmão, Sônia dos Humildes, Carlos Petrovicht e Othon Bastos. Os três últimos, inclusive, trabalharam em “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), um dos filmes mais emblemáticos de Glauber Rocha.
O ato simbólico trata de uma política pública de educação em Direitos Humanos, com o objetivo de resgatar, preservar e divulgar a memória política brasileira, em especial do período da ditadura militar. Na cerimônia também será anunciado se a família do cineasta terá direito a indenização. No julgamento, a família receberá o o anúncio do perdão oficial do Estado, concluindo seu processo de anistia política, cuja tramitação na Justiça dura desde 2006.
Segundo o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, “trazer o julgamento da anistia do Glauber para ser feito no seu estado natal, é uma forma de, a um só tempo, homenagear a inestimável genialidade deste brasileiro e também ativar a memória social, principalmente dos que não viveram aquele período. Quando os jovens percebem os danos causados pela ditadura, passam de uma postura apolítica para uma postura de defesa dos valores democráticos”.
A Comissão de Anistia julgou até hoje 55 mil requerimentos de anistia política. Em 14 mil casos houve algum tipo de reparação econômica e em 22,5 mil processos houve apenas o pedido oficial de desculpas do Estado. Dezoito mil pedidos de anistia foram negados. No total, foram concedidos cerca de R$2,4 bilhões em reparações econômicas. Hoje, existem 11 mil processos na comissão que estão aguardando análise em primeira instância e outros 3,5 mil aguardam pedidos de recurso. Nos últimos três anos, a comissão analisou 10 mil processos por ano. O processo de anistia foi iniciado pela filha do cineasta, Paloma Rocha, em 17 de maio de 2006, a pedido da família.
"Acho muito importante esse reconhecimento, estou muito feliz e estou com a maior boa vontade para que isso aconteça. Vai ser uma festa muito bonita na Bahia e tenho expectativa grande para o dia", afirma Lúcia Rocha, mãe do cineasta.
Glauber Rocha – Nascido na cidade de Vitória da Conquista, Glauber é um dos mais importantes cineastas brasileiros, sendo o grande nome do Cinema Novo, movimento iniciado no começo dos anos 60.
No Brasil, tem-se registrado a censura de 444 obras de importantes diretores brasileiros de várias tendências e expressões, em uma lista que incluiu nomes como Cacá Diegues, Leon Hirszman, Arnaldo Jabor, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro, Hector Babenco, Ruy Guerra, José Mojica Marins, Rogério Sganzerla entre outros.
Os filmes censurados de Glauber foram: “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, “Historia do Brasil”, “Cabeças Cortadas”, “Di Cavalcanti”, “Idade da Terra”, “Maranhão 66”, “Câncer”, “Claro” e “Pátio”.
Entre 1969 a 1976, o cineasta ficou fora do país, mudando diversas vezes de endereço. Na Universidade Columbia, em Nova York, apresentou a tese "Eztetyka do Sonho". No Chile filmou um documentário sobre os brasileiros exilados, que não foi concluído. Glauber faleceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 22 de agosto de 1981, aos 42 anos, vítima de choque bacteriano provocado por broncopneumonia.

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