quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dados do governo reforçam crítica de Serra à Bolívia

De e-mail da atenta Cláudia Mousinho:
Documentos oficiais produzidos pelo governo durante a gestão Lula reforçam a acusação de José Serra (PSDB) contra o governo da Bolívia. O presidenciável tucano acusou o governo boliviano, na última quarta-feira, de ser “cúmplice” dos traficantes que enviam cocaína para o Brasil. Em reação, a rival petista Dilma Rousseff disse que Serra “demoniza” a Bolívia. Mas os dados colecionados pelo governo como que corroboram Serra. Sob o compromisso do anonimato, uma autoridade da Divisão de Controle de Produtos Químicos da Polícia Federal falou à Folha sobre o tema. Disse que relatórios oficiais da PF informam que 80% da cocaína distribuída no país vem da Bolívia. A maior parte na forma de “pasta”. O refino é feito no Brasil. Serra falara em algo entre “80% e 90%”. Para a PF, a evolução do tráfico revela que há “leniência” do governo boliviano. Serra usara expressão análoga: “Corpo Mole”.
A PF atribui o fenômeno a aspectos culturais, não a má-fé. A autoridade que falou à reportagem lembrou que o cultivo da folha de coca é legal na Bolívia. O produto é utilizado de várias maneiras – de rituais indígenas à produção de medicamentos. O problema é que o excedente abastece o tráfico. A encrenca é mencionada também em relatórios e troca de correspondências do Itamaraty. Um resumo da visão brasileira foi repassado à Câmara em 2007. Num documento de 11 páginas endereçado à Comissão de Relações Exteriores, foram abordados os contenciosos do Brasil com a Bolívia. Entre eles a droga.
O texto é uma resposta a requerimento feito pelo deputado Raul Jungmann (PPS-PE). Anota: “Entre 2005 e 2006, a área de produção de folha de coca na Bolívia cresceu de 24.400 para 27.500 hectares”. Informa que, sob Morales, adotou-se política dicotômica: combater o narcotráfico, mas “valorizar” a folha de coca. Acrescenta: “A Bolívia foi suspensa, em julho de 2007, do Grupo Egmont”, entidade que reúne órgãos de inteligência de 105 países. Dedica-se à repressão da lavagem de dinheiro e do terrorismo. Segundo o Itamaraty, foi à Bolívia uma delegação de brasileiros e chilenos. Reuniram-se com autoridades locais em junho de 2007. “Sem resultado”, diz o texto.
Sob Lula realizou-se um esforço para reativar, também sem sucesso, as comissões mistas antidrogas Brasil-Bolívia. Em setembro de 2008, o Itamaraty enviou à Câmara outro relatório, uma atualização do primeiro. De novo, 11 páginas. Assina o documento chanceler Celso Amorim. No tópico relacionado às drogas, Amorim escreve: a ONU "divulgou relatório que indica aumento na produção de coca na Bolívia pelo quinto ano consecutivo". Menciona uma evolução: a Bolívia "tem buscado reforçar sua imagem de país comprometido com a luta contra o narcotráfico ('Cocaína cero')..." Mas ressalva: "...Ainda que mantenha sua política da valorização da folha de coca como expressão do patrimônio cultural".
No mês seguinte, outubro de 2008, Morales expulsou da Bolívia os cerca de 20 agentes do departamento antidrogas dos EUA que auxiliavam no combate ao tráfico. O pretexto foi a acusação de que o DEA (Drug Enforcement Administration, na sigla em inglês) realizava operações de espionagem contra o governo boliviano. A Bolívia firmaria, dois meses depois, um acordo com o Brasil. Previa que a Polícia Federal passaria a atuar na Bolívia no combate ao tráfico de cocaína e de armas. De acordo com a PF, o acordo esbarra até hoje em entraves financeiros. La Paz deseja que Brasília arque com os custos.
- Em tempo: O texto acima foi veiculado na Folha deste domingo, em versão resumida.

Planalto gastou R$3 mi para exibir Dilma em viagens

Ao ungir Dilma Rousseff como sua candidata, Lula se auto-atribuiu a tarefa de convertê-la de auxiliar desconhecida em presidenciável competitiva.
Com antecedência nunca antes vista na história desse país, o presidente antecipou sua própria sucessão. Levou a ministra-candidata à vitrine já em 2009.
Exibiu-a em inaugurações e inspeções de obras, num vaivém que inspirou os rivais a acusá-lo de usar a máquina pública com propósitos eleitorais.
Uma pergunta passou a boiar na atmosfera: Quanto custou ao contribuinte brasileiro a movimentação urdida para catapultar Dilma?
Um deputado oposicionista, Raul Jungmann (PPS-PE), transformou a dúvida num requerimento de informações. Endereçou-o à Casa Civil da Presidência.
Esse tipo de requerimento é uma prerrogativa que a Constituição confere aos congressistas. Coube à sucessora de Dilma, Erenice Guerra, responder.
No questionário, Jungmann circunscreveu sua curiosidade a eventos realizados entre 1º de setembro de 2009 e 19 de fevereiro de 2010, quase seis meses.
Em pesquisa prévia, o deputado contabilizara 26 as viagens e eventos. Inquiriu sobre os custos da participação de Dilma, de Lula e dos convidados oficiais.
Na chefia da Casa Civil desde abril, quando Dilma trocou o posto pelos palanques, Erenice respondeu apenas um pedaço do questionário.
Limitou-se a informar a cifra referente à participação de Dilma nos pa©mícios: R$ 3,052 milhões. Para ser exato: R$ 3.052.870,94.
Ou seja, noves fora o grosso dos custos (Lula e comitiva) a Viúva foi levada a torrar uma média de R$ 508,8 mil por mês para promover a candidata oficial.
As cifras incluem, segundo a resposta da Casa Civil: “Fornecimento de alimentação, diárias, hospedagem...”
“...Serviços de telecomunicações, de apoio logístico e locação de veículos terrestres [utilizados por Dilma] nas viagens”.
E quanto ao resto? “As demais despesas relacionadas a combustível das aeronaves oficiais, locação de veículos aéreos...”
“Custo estimado por convidado e número de convidados que integraram a comitiva presidencial, deixam de ser informadas”.
Por quê? “Não são da competência desta secretaria [de Administração da Casa Civil] e tampouco constam do nosso sistema de apropriação de custos”. Pena.
Só numa das viagens, a “Caravana do São Francisco”, Lula e Dilma dispuseram de um séquito de mais de cem convidados. Seria razoável saber quanto custou.
O Planalto sempre alegou que o périplo promocional de Dilma não ultrapassou as fronteiras da lei. Foram atos de governo, não de campanha.
Decisões tomadas pelo TSE deram ares de pantomima à alegação. O rol de viagens inclui, por exemplo, um deslocamento ocorrido em 22 de janeiro de 2010.
Nesse dia, Lula e Dilma foram à inauguração da sede do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados de São Paulo. A coisa virou comício.
Em discurso transmitido ao vivo pela emissora estatal, Lula fez campanha para Dilma. Ao julgar representação da oposição, o TSE multou-o em R$ 10 mil.
Noutra viagem listada por Jungmann e incluída nos levantamento de custos da Casa Civil, Lula levou a candidatura de Dilma ao interior de Minas Gerais.
Cabo eleitoral e candidata foram a cidades mineiras, em 9 de fevereiro de 2010. Entre elas Teófilo Otoni. Uma visita impregnada de 2010.
Num dos discursos do dia, Lula, com Dilma a tiracolo, disse: “Vou fazer a sucessão”. Para quê? “Dar continuidade ao que nós estamos fazendo...”
“...Porque este país não pode retroceder. Este país não pode voltar para trás como se fosse um caranguejo”.
De novo, provocado pela oposição, o TSE condenou Lula por campanha ilegal e fora de época. Multou-o, nesse caso, em R$ 5 mil.
Não foram as únicas multas. Houve outras, resultantes de transgressões praticadas em viagens e eventos não listados no requerimento que a Casa Civil respondeu.
A azáfama administrativo-eleitoral foi tanta que, em 27 de janeiro, de passagem por Recife, Dilma viu Lula ser recolhido a um hospital da capital pernambucana.
O mal-estar do presidente foi passageiro. Rendeu-lhe uma madrugada no leito hospitalar e um check-up de emergência.
Permanente mesmo só a impressão de que o contribuinte –inclusive os eleitores de José Serra e Marina Silva— financiou parte do empreendimento eleitoral de Lula.

Comentário de Cláudia Mousinho: Depois, se a candidatura de D.Dilma for impugnada, vão dizer que é golpe.

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