E-mail de Claudia Mousinho com comentário de Reinaldo Azevedo:
O Itamaraty faz o que bem entende com boa parte da imprensa brasileira. E não é de hoje. Celso Amorim, o Colosso de Rhodes da diplomacia mundial, consegue transformar, por aqui, em sucessos todos os seus desastres. Até agora, o Megalonanico petista não ganhou uma. Mas emplaca suas versões com impressionante habilidade. Pronto! Celso Amorim é um ministro das Relações Exteriores especialista em enganar jornalismos interiores…
No Estadão de ontem, havia uma reportagem cujo título era este: “Desmentido dos EUA irrita Itamaraty”. Uma “alta fonte” da diplomacia brasileira deu uma declaração em off, embora entre aspas, o que é um procedimento interessante e revolucionário. O sujeito não tem rosto nem nome, mas tem voz. Disse ao jornal:
“Causa estranheza ouvir de representantes do terceiro ou quarto escalão do governo dos EUA frases que põem em dúvida o que a mais alta autoridade americana afirmou, por meio de carta, ao presidente de outro país”.
Essa “alta fonte”, dada a qualidade da intervenção, deve ter sido mesmo Celso Amorim. “Fonte”, vá lá. Que seja “alta”, aí já é manifestação de generosidade do jornal.
Como se nota, o dito-cujo está se referindo à entrevista de funcionários do Departamento de Estado dos EUA, concedida na sexta-feira, em que afirmaram que a tal carta de Barack Obama a Lula não continha “instruções” para acordo nenhum. Mas isso era até o de menos e vou dizer por quê. Antes, uma lembrança: já havíamos comentado essa carta aqui há quase duas semanas. Ela deixa claro, note-se, que os EUA não abririam mão das sanções se o Irã não subordinasse à inspeção da AIEA o seu programa nuclear. E, naquele fabuloso dia 17 de maio, enquanto o Brasil batia tambor para o acordo, os iranianos anunciaram que continuariam a enriquecer urânio, tirando a escada de Amorim e Lula, deixando-os pendurados na brocha. Não é que os dois não soubessem que assim seria; só não contavam que o Irã fosse ser tão rápido em desmoralizá-los. Menos de 24 horas depois, os EUA anunciaram o entendimento das cinco potências para as sanções.
Por que a carta era o de menos? Os funcionários americanos — que Celso Amorim ou um prepostinho seu considera de “terceiro ou quarto escalões” (ao menos eles tinham cara, não oferecendo aspas sem rosto) — revelaram que a carta era um entre muitos documentos. Informaram que o Brasil recebeu relatórios secretos do serviço de Inteligência dos EUA com informações sobre o programa nuclear iraniano. E, ESCÂNDALO DOS ESCÂNDALOS!, a quase totalidade da imprensa fez de conta que isso não era “A” notícia!
O governo brasileiro omitiu essa informação de todo mundo e vazou a carta de Obama, o que, não fosse uma tentativa descarada de manipulação, já caracteriza uma grosseria. Vale dizer: o Brasil negociou com o Irã sabendo tudo, ou quase tudo, que os EUA sabiam — e isso inclui o dado essencial de que Ahmadinejad manteria no país, estocada, pelo menos uma tonelada de urânio, que pretende enriquecer por conta própria, sem qualquer acordo. Estima-se que é suficiente para conseguir ao menos um artefato nuclear. Não só! Sabe-se agora que a Coréia do Norte, outro estado delinqüente, está colaborando com os programas nucleares da Birmânia e do… Irã!!! Não duvido nada que Lula e Amorim soubessem disso também.
O governo brasileiro planta ainda duas versões, que estão sendo muito bem-aceitas por alguns dos nossos jornalistas comportados e nacionalistas. A primeira: os EUA estariam exercendo uma estratégia de “controle de danos”, para tentar reverter um suposto desgaste gerado pelo “vazamento” da carta… Nem diga! A imagem do país e a de Obama ficaram abaladíssimas!!! No mundo, só se fala de outra coisa.
A outra informa que Obama e Hillary estariam usando o Irã para resolver seus problemas internos. Como enfrentarão em breve eleições legislativas, querem evitar a pressão dos republicanos etc. e tal… Pois é. Isso é, com efeito, parcialmente verdadeiro numa democracia e numa República, como efetivamente são os EUA. Governos têm de se ocupar do que pensam as outras forças políticas. E a razão é simples: ELAS TAMBÉM REPRESENTAM OS AMERICANOS, EM NOME DOS QUAIS BARACK OBAMA EXERCE A PRESIDÊNCIA. Por lá, ser oposição não é tratado como ato criminoso ou falta de juízo, a exemplo do que se dá a entender, às vezes, no Brasil.
Quem está, aí sim, numa estratégia de “controle de danos”, parcialmente bem-sucedida, é o Itamaraty. Na média, reitero, a imprensa brasileira ainda não refletiu o tamanho do desastre diplomático a que Amorim e Lula nos expuseram desta vez. Ao contrário: parte dela vestiu a camisa verde-amarela e passou a se comportar como torcida.
O fato é que este gigantesco factóide falhou! Só resta agora brincar de fazer discurso antiamericano na boca da urna. Um dos jornalistas do Franklin já foi escalado para sugerir que tudo, no fundo, seria mesmo culpa de FHC, que até teria convencido Bill Clinton a convencer Obama a não visitar o Brasil antes das eleições. A máquina, meus caros, é poderosa! O chato, nesse caso, é que os EUA têm como se comunicar com o mundo. Não dependem da televisão da Teresa Cruvinel. Imaginem o “acordo” sendo vendido pela Lula News a 49 países africanos! Huuummm… Só seis entendem o português. E isso nem quer dizer necessariamente que entendam direito o que Lula fala.
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