Comentário de Reinaldo Azevedo:
Mandam-me um post de Ricardo Kotscho, um lulista crítico, independente e isento, que se chama “Que Brasil é este dos 5% do contra?”. O blogueiro começa assim:
“O tema do Balaio deste domingo vale uma pesquisa em profundidade, uma tese acadêmica ou mesmo uma capa de revista: que Brasil é este dos 5%? Entra pesquisa, sai pesquisa, eles estão sempre lá do mesmo tamanho. São os que consideram o governo Lula ruim ou péssimo. A aprovação do presidente e do governo pode variar entre 70 e 80%, conforme o instituto, os restantes ficam na categoria regular e, invariavelmente, temos os 5% de insatisfeitos com os rumos do país, tanto faz o que esteja acontecendo naquele momento de bom ou ruim.
Quem são eles, onde vivem, o que fazem, o que pensam ? Já que ninguém se atreve a investigá-los, disponho-me aqui a encontrar algumas respostas sobre o perfil deste minoritário, mas sólido contingente de brasileiros que não mudam de opinião, mesmo remando contra a maré.”
É um troço fabuloso! Parece que Kotscho está propondo que os lulistas críticos, independentes e isentos como ele façam o que setores da Polícia Federal, ao arrepio da lei, já tentaram fazer sem sucesso: FICHAR os 5%, segundo algumas pesquisas, que acham o governo Lula “ruim ou péssimo”. São nove milhões de brasileiros, diz Kotscho. Ele quer saber o que são e como vivem. Entendo a sua curiosidade: não devem ser os banqueiros, não devem ser os industriais que contam com isenção fiscal, não devem ser aqueles que prestam serviços sem licitação para a máquina pública, não devem ser os jornalistas de revistas sustentadas pela propaganda oficial, não devem ser filhas de jornalistas chapa-branca com contrato na TV sem público do Lula. Quem será essa gente, meu Deus? Precisamos, como diz Korscho, empregando o verbo sem dúvida correto e se sentido inequívoco: “INVESTIGAR” essas pessoas.
Stálin, por exemplo, tinha essa mesma curiosidade científica do “companheiro jornalista”. E dava eficiência prática à sua inquietação intelectual: levava no bolso uma caderneta com o endereço dos dissidentes — no caso, quem estava em qual campo de trabalhos forçados. No Brasil, talvez não se chegasse a tanto. No máximo, é preciso identificar onde estão essas pessoas esquisitas para que passem por aquilo que o neo-socialista Gabriel Chalita chamaria de “Pedagogia do Amor”.
Kotscho ainda “investigou” essas pessoas, mas ele já tem o perfil dos “doentes”:
“Confundem o país com o governo, a vida real com o noticiário do poder, ao reproduzir o que lêem nas manchetes e nos editoriais dos grandes veículos, nos blogs da Veja.com, nas colunas de O Globo ou ouvem dos comentaristas da CBN e da Jovem Pan. Se você fala bem de alguma coisa acontecendo no país, logo te chamam de vendido, chapa-branca, idiota.”
Eis aí… O valente já está identificando alguns endereços para o sonhado “Pogrom do Kotscho” — como se nota, ele quer nos pegar para nos mostrar a verdade. No mesmo post em que ele propõe que a “SA do Amor” identifique onde estão os esquisitos, elogia o trabalho de dois jornalistas, embora, no trecho acima, ela ataque os grandes veículos, especialmente editoriais e manchetes. É uma forma de agredir a grande imprensa, porém preservando a “categoria”. Afinal, ele continua na ser um bom rapaz da corporação.
Ao ser despertado para esta indagação espantosa — “Mas quem são esses 5%?” —, Kotscho expressa o seu inconformismo com o fato de o governo não contar com os ambicionados 100% de aprovação. Lembro que Saddam Hussein vencia eleições no Iraque com apenas 97% dos votos. E não consta que corresse atrás dos 3% que diziam “não”. Faltava-lhe um Ricardo Kotscho para dar a idéia.
E o homem do balaio já se defende: não é ”vendido, chapa-branca ou idiota”. Eu nunca disse que ele é idiota. Ao contrário, acho que está na categoria dos espertos.
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